Lirio Parisotto fala sobre a compra da Innova e conta um pouco sobre sua trajetória.
Nascido em Nova Bassano, na Serra Gaúcha, foi incentivado pela mãe a estudar para ser alguém na vida. Formou-se em Medicina, mas encontrou mesmo seu destino como empreendedor na maior indústria de mídias virgens e pré-gravadas do Brasil. Conheça nessa conversa as superações e chances que, bem aproveitadas, fizeram da Videolar referência em seu negócio. E hoje uma petroquímica de porte, pronta para crescer.
P: Como o empreendedor gaúcho se sente agora que adquiriu uma das vinte maiores empresas do seu estado natal?
LP: É um retorno cheio de significado. Saí daqui há quase trinta anos. O Rio Grande do Sul sempre produziu muitos empreendedores__ parece mesmo algo inato__ mas que muitas vezes não conseguem se desenvolver na sua própria região. Até que partem. Veja, por exemplo, o oeste do país, com várias empresas importantes fundadas por gaúchos. Cito o Maggi (senador Blairo Maggi), entre tantos outros valores. No setor de churrascarias, então, já ultrapassam fronteiras. O Rio Grande do Sul é, por ouro lado, um estado onde pouca gente de fora vem iniciar empresas. Em compensação, exporta empreendedores.
Minha saída efetiva aconteceu em 1988, quando transferi a operação da Videolar para São Paulo e Manaus. Crescemos, e a empresa se tornou conhecida através das mídias pré-gravadas e virgens, como os cassetes de áudio e vídeo, disquetes, CDs, DVDs, discos Blu-ray, além dos seus respectivos estojos plásticos. Hoje, vários desses produtos já se foram, ainda que os trabalhássemos bem, mantendo sempre a liderança absoluta na área. O fato é que mudaram a tecnologia e os hábitos de consumo. Mas também nós seguimos dinâmicos.
Em março de 2002 inauguramos uma fábrica de poliestireno em Manaus, que está operando até hoje. Naquele momento, visávamos ao nosso consumo próprio de resina (usada nos estojos das mídias), e também ao atendimento das indústrias da Zona Franca de Manaus, grandes consumidoras de PS para gabinetes dos televisores, telefones, monitores e toda essa linha. Havia então um consumo de 80.000 a 100.000 toneladas/ano, o que justificou a montagem da nossa planta, então com capacidade de 120.000 toneladas/ano. O patamar atual é de 150.000 toneladas/ano.
Retomando sua questão, eu vejo que as pessoas voltam para visitar o Rio Grande, mas fazer um investimento desse porte, ao adquirirmos uma empresa do tamanho da Innova, me parece inédito. Outros casos, desconheço.
P: É natural a curiosidade pela sua trajetória de vida. Onde estava antes e como chegou até aqui?
LP: Minha história é de domínio público e, depois que inventaram o Google, ficou acessível a todos. Eu nasci no interior do estado, em Nova Bassano. Saí de casa relativamente cedo: aos catorze anos estava num seminário. Quase me tornei padre. De lá parti para estudar Medicina na Universidade de Caxias do Sul, fazendo depois minha residência aqui em Porto Alegre. Ainda na metade da faculdade montei um pequeno negócio de eletroeletrônicos em Caxias e, quando me formei, optei por ficar no comércio. Começamos vendendo eletrodomésticos, televisões, aparelhos de som, calculadoras, videocassetes. Não existiam os celulares! Em 1987, vendemos nossa operação para as Lojas Arno (mais tarde adquiridas pelo Magazine Luiza) e migramos do comércio para a indústria. Na área dos suportes de mídia há muita importação de componentes, equipamentos e matéria-prima, o que nos levou como destino natural a Manaus, além de São Paulo. Minha história seguiu por esse caminho, e a medicina ficou para trás. Sem prejuízos, pois há excelentes médicos no Rio Grande do Sul.
P: O que a vida lhe ensinou ser necessário__ nos planos pessoal e profissional__ para conduzir um negócio?
LP: Antes de mais nada, para iniciar um negócio é necessário conhecimento, informação de qualidade. Saber qual e como é o mercado existente, seja no caso de serviços ou produtos. Analisar com profundidade o custo das matérias-primas envolvidas, as pessoas com quem irá trabalhar e, na essência, o capital necessário para fazer isso tudo acontecer. Ele será vital para que, gastando o que tem, você vá subindo degrau por degrau. Eu fico abismado quando vejo as pessoas querendo montar um negócio sem ter dinheiro. E, bem-vindos ao time, porque para todo mundo falta capital. Eu comecei sem o auxílio de ninguém, num negócio pequeno, aceitando equipamentos usados na compra de novos. E fui, devagarzinho, sempre como prioridade financeira reinvestindo no próprio negócio. Morei até os quarenta anos em apartamento alugado, quando a empresa já tinha os seus próprios imóveis. Então, você vai aplicando o que ganha e__ com conhecimento, controle de custos e buscando preços de venda adequados, além de manter gente boa trabalhando com você__ pode chegar ao sucesso. Ele só não virá se o produto morrer. E aí o negócio muda, como no caso dos suportes e mídia. Vejo que você está gravando a entrevista com o celular: já não se usa mais o áudio cassete, e nós perdemos com isso (risos).
P: O que o Brasil e o mercado ganham com a integração da Innova e Videolar?
LP: Vamos trabalhar no ganha-ganha, para crescer e investir em novos produtos. Na verdade, o mais importante são as sinergias do negócio: buscaremos ajustar a produção para atender os mercados mais regionalmente. Videolar e Innova estão situadas respectivamente nos dois extremos do Brasil, o que gera excelentes chances de otimização logística. Alguns grades de resina com menor demanda poderão ser produzidos apenas numa das plantas. Nutrimos grandes expectativas também quanto ao intercâmbio de conhecimentos: a Innova mantém um centro de pesquisas muito importante e os produtos que desenvolve têm alta relevância para nós. A operação, como um todo, precisa dessas informações. A Videolar tem também amplo conhecimento a transmitir. O aproveitamento é mútuo: a integração dos nossos corpos técnicos de engenharia será um ganho muito importante para os negócios.
P: Além desse aspecto, o que mais lhe atraiu na decisão de comprar a Innova?
LP: O namoro é antigo: há 10 nós já conversávamos para uma eventual fusão, inclusive considerando os negócios da Argentina, quando a Petrobras assumiu o controle da Perez Companc. Àquela época, a coisa não evoluiu, mas ficou latente. Sentimos que a Petrobras não dava a devida atenção ao negócio__ não por um erro, mas pela estratégia em si da companhia. Ela está focada no upstream, na exploração do petróleo, muito mais do que de seus produtos derivados, como é o nosso caso. Ficamos de olho para ver se surgia uma oportunidade de que a Innova fosse vendida. E aconteceu. Os colaboradores já sabem de todo o trabalho que tivemos para chegar até aqui, o envolvimento de várias pessoas com as respostas e o atendimento às exigências do CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Tomamos esse caminho também porque o negócio principal da Videolar, os suportes de mídia, é decadente. E agora se abre a oportunidade de nos mantermos em um negócio importante. Os faturamentos das duas empresas sempre foram muito parecidos. A Innova tem o monômero, enquanto a Videolar dispõe da receita na área dos suportes de mídia, além dos estojos e tampas plásticas__ fabricamos 200 milhões de tampas/ mês. Temos também o segmento das chapas de PS, PP, e filmes de BOPP, em que capacidade produtiva está entre 70 mil e 80 mil toneladas/ano. Enfim, a Videolar vai continuar com outros negócios, mas a intenção dessa integração é repassar à Innova a gestão do poliestireno. A unidade de Manaus estará integrada com unidade de Triunfo. Não faz sentido manter duas gestões, e nós temos muitos talentos dentro da Innova. Conforme já disse, acredito que os principais ativos aqui são as pessoas. E gente não se compra, se conquista. Então temos de mantê-las do nosso lado para crescermos todos, inclusive com novos produtos.
P: E como fica a marca Innova?
LP: A empresa continua assim denominada, e inclusive já compramos o domínio na internet, que não pertencia à petroquímica. Todos os elementos de identificação visual trarão a marca Innova. E pode ser que, no futuro, nossa planta de poliestireno em Manaus venha também a se chamar Innova. Vamos observar, com o decorrer do tempo. A Videolar é uma empresa conhecida pelos suportes de mídia que, desde sempre, fabricou. Temos de avaliar a mudança da nossa operação, mas a tendência é de que os negócios do estireno girem sob a marca Innova.
P: Mais planos para o futuro?
LP: O poliestireno, mundialmente, parou de crescer. É uma resina madura__ se não me engano, foi a primeira a ser descoberta__ e tem seus usos cativos. Enquanto isso, outras resinas crescem, em ritmo maior do que o PIB. Sendo assim, não temos para o PS ambições maiores do que manter uma grande participação de mercado. Há o compromisso assumido com o CADE em não reduzir a produção, para evitar déficit da resina no mercado. Mas outras oportunidades estão à espera: o consumo do monômero de estireno segue crescendo em suas várias aplicações. E vamos avaliar as resinas novas. Caso consigamos a matéria-prima necessária, queremos dobrar a produção de monômero, à medida que o Brasil importa hoje ao redor de 300 mil toneladas. Levando em conta que metade dessa importação é feita pela Videolar, temos tranquilamente a capacidade para outra planta na Innova do mesmo porte da existente, de 250 mil toneladas.
P: Algo sobre as resinas com pegada sustentável?
LP: A pegada ecológica é sempre muito boa, e espero que não seja apenas moda, e sim que evolua. Em Manaus, consumimos 8.000 toneladas de polibutadieno por ano, que é a borracha. A produção total da Amazônia é de 7.000 toneladas__ e, se conseguíssemos trocar a borracha sintética pela natural, teríamos um fornecedor local. Trata-se de estímulo muito grande, porque o seringueiro coleta o látex na floresta. Em primeiro lugar se mantém o habitante integrado ao seu meio, numa atividade autossustentável, pois não se derrubam as árvores, apenas se extrai o látex. Eu já conversei com o corpo técnico, e todos ficaram muitos motivados. No mínimo, se não for possível usar 100% da borracha natural, que seja parcialmente, misturada à sintética. O desafio está lançado para os nossos engenheiros. Afora isso, a Braskem tem o eteno verde, e vamos estudar seu uso em algumas aplicações, para clientes que tenham o interesse de tê-lo em grades específicos de PS. Devemos estar atentos, e nosso Centro de Tecnologia será continuamente estimulado à desenvolver novos produtos.
P: Como vê os desafios econômicos para 2015?
LP: Essa pergunta eu só posso responder daqui a dois meses (entrevista feita em novembro). O fato é que a presidenta levou um susto nessas eleições. Na verdade, o brasileiro quer mudança, não aguenta mais esse assistencialismo sem crescimento. E a melhor inclusão social se faz quando se cresce. O Brasil precisa voltar a essa linha, estamos estagnados, indo para trás. O voto se tornou do assistencialismo. O socialismo não deu certo em lugar nenhum, e não será diferente no Brasil. Nós temos exemplos como o da Venezuela, um país rico com povo pobre. Há Cuba, a própria Argentina também caminhando para isso. Não precisamos procurar longe daqui, pois já os temos nos países vizinhos. Eu digo que só posso responder daqui a dois meses porque tudo irá depender de quem a presidenta designe para os postos chave. Hoje, ela não dispõe de gente com porte e peso nos ministérios. Veremos quem vai para pastas importantes como as do Comércio, Minas e Energia, Fazenda, Agricultura, Casa Civil e também ao Banco Central. Precisamos de grandes talentos, gente capaz e com credibilidade para fazer o país crescer. E, se ela não o fizer, acho que as coisas vão piorar. Isso porque temos uma pauta de ajustes: o Brasil está com déficit primário já nesse ano. Há ajustes na área de energia, no custo dos combustíveis. O cenário adiante não é animador, mas se tivermos a pegada de crescimento as coisas podem melhorar. As pessoas querem inclusão social e mais do que ganho paliativo. Então, vamos ver se a presidenta vai continuar no assistencialismo ou levar o país a sério.
P: Agora que a transferência de controle acionário já foi concluída, como será o dia seguinte na Innova?
LP: Será igual ao anterior, sem mudanças radicais. Não vai haver demissões, nosso desafio é o de fazer mais: produtos, investimentos, oportunidades na área do estireno, novas resinas, duplicação da planta de monômero. Desde a primeira reunião que fiz com os gerentes, disse e torno a repetir que não haverá mudanças traumáticas. A empresa está bem, tem uma boa gestão, muitos talentos, e o que precisamos é gerar desafios para melhorar ainda mais. Na vida podemos sempre fazer melhor. Teremos, sim, alguns ajustes nos dois primeiros meses, como mudar o domínio de internet e integrar os sistemas. Isso sempre dá trabalho, mas nossa disposição é grande. O pessoal de vendas da Innova, em São Paulo, vai trabalhar junto conosco em Alphaville. E, como disse, haverá a integração das pessoas na operação do poliestireno. Na Videolar, ele é mais um produto. Na Innova, é o produto. Certamente vamos ter todos muito para aprender.