Plataforma de comunicação e educação financeira TC (TradersClub) publica texto biográfico de Lirio A. Parisotto, fundador da Innova

Apresentaremos a biografia de Lirio Albino Parisotto, dono de um traço singular: reúne e consolida, com igual pujança, as personalidades do empreendedor e investidor.

Parisotto fundou a Videolar, indústria de mídias (fitas de vídeo VHS, áudio cassetes, disquetes, CDs, DVDs) e conduziu sua companhia através de sucessivas reinvenções ao que hoje é a Innova, petroquímica e transformadora de resinas termoplásticas.

No universo da Bolsa, é conhecido como um entusiasta e praticante convicto da filosofia “buy and hold” (compre e mantenha) e do “value investing”: mira as ações das empresas que demonstram comprovada consistência, vigor e potencial de crescimento no longo prazo. Seu fundo Geração L Par mantém posições históricas em setores estruturais da economia como energia, bancos, siderurgia e mineração.

No texto a seguir, revelaremos aspectos essenciais da visão de mundo de Lirio Albino Parisotto, sua formação, dilemas, desafios e filosofia empresarial, além das máximas que o tornaram reconhecido como frasista de aguda percepção do mundo dos negócios.

Boa leitura!

Jamais aceite um não!

As pistas para quem se tornaria Lirio Albino Parisotto estão em cada ângulo dessa breve biografia, que mostra como os acontecimentos foram exercendo marcas profundas e lhe moldando a visão de mundo, a começar pelo seu cenário natal: um pedaço de terra a cerca de 10 quilômetros da cidade de Nova Bassano, na Serra Gaúcha. Lirio é neto de imigrantes italianos, primogênito de onze irmãos. Seu pai, marceneiro e agricultor, gostava de construir casas. Sua mãe cuidava da família e tomava conta da propriedade, da ordenha, costurava as roupas de todos, produzia o queijo. Até os sete anos, Lirio falava apenas o que imaginava ser o italiano, mas era mesmo o talian, dialeto do Vêneto. Na casa da numerosa família Parisotto não faltava o alimento, mas sobrava trabalho árduo e o sustento precisava ser arrancado dia a dia. Cabia ao filho mais velho, nesta cena, um ônus relevante e prematuro.

Havia então na comunidade de duas figuras proeminentes: o pároco e o médico. Dois líderes, alvos das maiores e melhores atenções e da reverência de todos. A singela primeira escolha de vida para Lirio Parisotto foi o seminário católico, como chance de escapar da roça. Ali permaneceu dos quatorze aos dezenove anos, até ser expulso pelo seu espírito de adolescente algo anarquista. Ali também lhe foram inoculados o foco, a disciplina e o fôlego de leitor onívoro e voraz que lhe acompanharia vida afora.

Frustrado o futuro como padre, restava aos seus olhos a figura proeminente do médico: asseado, bem trajado, motorizado. Sem dúvida, um líder. A bordo desse ideal, Lirio Parisotto iria agora cavar a chance de cursar medicina.

Estudava para o vestibular e ganhava salário tomando conta do departamento de recursos humanos de um pequeno frigorífico com cem empregados. De lá também seria expulso, dessa vez por dormir no trabalho: Lirio havia conseguido comprar uma Kombi e, à noite, transportava universitários por 100 quilômetros até a cidade de Passo Fundo. Durante cinco dias por semana, rodava ida e volta 200 quilômetros para fazer algum dinheiro. É claro que, na manhã seguinte, estava extenuado. Mas assim seguiu e foi aprovado para três universidades, em Pelotas, Porto Alegre e Caxias do Sul.

A Bolsa de Valores

Lirio estreou cedo na Bolsa de Valores, aos dezoito anos, num contexto a anos-luz do que viria a ser o seu futuro. Morava então em Brasília e trabalhava na secretaria do Colégio Marista, dirigido pelo seu tio, membro da Igreja Católica. O montante que perdeu naquele ano de 1971 equivalia a um Fusca, dinheiro do prêmio por uma monografia vencedora de concurso lançado pelo Ministério da Defesa.

O momento da Bolsa era fantástico e, na sala dos professores do Colégio Marista de Brasília, só se falava em multiplicar o dinheiro por dez. Foi o que motivou aquela primeira incursão. Quando voltou ao Rio Grande do Sul, dois anos depois, o que tinha no bolso era suficiente para pagar um jantar com vinho barato.

Mais adiante, Lirio também seria aprovado num concurso para o Banco do Brasil e logo desistido da carreira, com suas regalias e garantias, numa decisão percebida como a mais importante de sua vida. Estava definido: escolhera empreender.

A essência empreendedora

Na época da faculdade, comprava carros em São Paulo para revender em Caxias do Sul. Seguidamente, nos finais de semana, embarcava num ônibus e viajava mil quilômetros. Passou a comprar também gravadores de áudio cassete, os tape decks (símbolos de status) e os fornecia a uma loja em Caxias do Sul. Em dado momento, a pequena loja teve problemas financeiros e Lirio ficou com o capital de giro comprometido. O proprietário lhe ofereceu à venda o próprio negócio e o valor que tinha a receber foi transformado em sinal, com saldo financiado em 24 parcelas. Lirio passou então a tocar a loja de instalação de gravadores enquanto estudava para ser médico e devorava biografias de empreendedores, além de todo o tipo de revistas especializadas.

Aquele negócio foi a semente da Audiolar, que viria a se tornar expoente no varejo de eletrodomésticos e eletroeletrônicos em Caxias do Sul. Também anos-luz antes de se tornar estratégia consagrada no comércio, Lirio aceitava equipamentos usados como parte do pagamento para os novos. Dessa forma, a Audiolar chegou à liderança regional.

Mais adiante, em 1979, Lirio viajou à Nova York e conheceu o videocassete, a câmera de vídeo e as gravações VHS de filmes e shows. Recheou duas malas com fitas, voltou a Caxias do Sul e abriu um videoclube nos fundos da Audiolar. Era preciso que os clientes caminhassem por entre os corredores repletos de novos equipamentos para chegar às fitas. Mais uma vantagem competitiva de sua saga no varejo e fonte de uma das suas máximas mais conhecidas: “Quando você faz algo igual aos outros, não é nada. Faça diferente!”

Em 1986, pelo mérito em vendas da Audiolar, Lirio foi convidado a visitar a Sony, no Japão. O anfitrião era ninguém menos que o lendário Akio Morita, em pessoa. Lá, conheceu o laboratório onde as fitas de vídeo VHS eram fabricadas sob medida: a Sony usava apenas a matéria-prima suficiente para suprir o tempo de gravação do filme, sem sobras. No Brasil, trabalhava-se de maneira virtualmente oposta: de um lado, os fabricantes de fitas em tempos pré-determinados (T-60, T-90, T-120, T160) e, de outro, as empresas duplicadoras que compravam aqueles poucos modelos de fitas e duplicavam os filmes sob encomenda. O sistema da Sony unificava ambas as atividades com simplicidade brilhante, sem desperdícios: para um filme de 100 minutos, uma fita com 101 e não 120 minutos de duração. Nada mais que um único minuto de matéria-prima como margem de segurança.

A fita sob medida e sua economia de escala foram as vantagens competitivas transformadas em pedra fundamental da Videolar, inaugurada dois anos depois, em Caxias do Sul, quando Lirio se retira comércio, na alta, para ingressar na indústria.

De forma notória, a Videolar escreveu a história do vídeo no Brasil e chegou a fabricar, do Polo Industrial de Manaus para todo o país, 1.500.000 mídias por dia entre VHS, áudio cassetes, disquetes, CDs, DVDs e discos Blu-ray. Foi a única empresa em todo o mundo a atender simultaneamente às seis majors, como são chamados os estúdios cinematográficos de Hollywood. De fato, a Videolar cobriu mais de 90% do mercado brasileiro de home vídeo e música, fabricando e gravando mídias também para as distribuidoras independentes de todos os portes, indústria fonográfica, jornais, revistas e mercado editorial como um todo.

De volta à Bolsa

Na ebulição dessa trajetória, Lirio retornaria às ações em 1991, dessa vez com U$ 500.000. Seriam dois anos de permanência na Bolsa até que precisou injetar capital na Videolar e vendeu os papéis a U$ 200.000. Placar de 2×0, Bolsa versus Lirio.

Isso seria revertido mais adiante, quando Lirio comprou ações da Eletrobrás com os primeiros dividendos da Videolar: foram U$ 2 milhões, aplicados ao longo de um mês inteiro. Fazia toda a diferença o tamanho do montante, já que a movimentação diária de mercado girava, então, em torno dos U$ 10 milhões. Era também muito dinheiro investido numa única empresa. Em menos de dois anos, o mercado dobrou de tamanho. Mais um lapso de tempo e as ações atingiriam os U$ 8 milhões.

Depois do Fusca e dos U$ 300.000 evaporados, Lirio retornou à Bolsa sem receio, por um motivo extremamente simples: mais do que antes, acreditava nos fundamentos de investir em ações, na forma como passara a compreendê-las. Em 1998, a crise na Ásia derrubaria o mercado em 40%. Lirio voltaria às compras e essa é a origem do seu fundo atual, o Geração L Par de 2021.

Novas oportunidades

Em 2002, Lirio vislumbrou a chance de alçar a Videolar de maior consumidora nacional de poliestireno à fabricante dessa resina: ergueu então em Manaus a primeira petroquímica da Região Norte, inicialmente com capacidade de 120.000 toneladas/ano. O poliestireno era matéria-prima dos estojos de CDs e das fitas VHS, mas supria também diversas outras indústrias vizinhas instaladas no Pólo Industrial de Manaus, como a de eletroeletrônicos e eletrodomésticos com seus gabinetes dos refrigeradores e TVs, a dos materiais de escritório e escolares.

Em seguida à entrada nos negócios petroquímicos do poliestireno, Lirio investiu em 2011 mais de R$ 100 milhões na fabricação de tampas plásticas para águas minerais, sucos e refrigerantes. Um ano depois, mais R$ 600 milhões numa planta de última geração para a fabricação de filmes plásticos de polipropileno biorientado (BOPP), essenciais à indústria de embalagens alimentícias. Tudo isso formando mão de obra especializada no Amazonas.

Em 2014, a Videolar comprou da Petrobrás por U$ 500 milhões a petroquímica Innova, situada no Polo Petroquímico de Triunfo (RS), fabricante do monômero de estireno, substância com papel central na economia, presente no asfalto, pneus, tintas e matéria-prima do próprio poliestireno produzido na mesma fábrica. Galgou assim posições estratégicas no norte e no sul do país.

Hoje, Innova é a marca que rege os negócios e produtos da companhia. Na nova gestão, a planta de Triunfo teve desengavetado e tornado real o projeto de duplicação da sua capacidade industrial da fabricação do monômero de estireno às 420.000 toneladas/ano, além de passar a produzir o poliestireno expansível (EPS), presente em aplicações da indústria farmacêutica à construção civil e obras de infraestrutura, como estradas e pontes.

A próxima reinvenção da Companhia acontece em 2021, quando a mesma petroquímica de Triunfo (RS) se torna autoprodutora e autossuficiente na geração de energia e vapor a partir de fonte 100% renovável: a biomassa dos resíduos vegetais sólidos de madeira de acácia, pinus, eucalipto, cascas de arroz e sobras de serrarias sob a forma de cavacos.

A Central de Geração de Vapor e Energia da Innova compreende três caldeiras e dois geradores, com capacidade para processar 486.000 toneladas/ano de biomassa, gerando 1.445.000 toneladas/ano de vapor e 263.000 MWh/ano de energia elétrica. Batizada de Projeto Acácia, inaugura um círculo virtuoso para produtores gaúchos da cadeia florestal num raio de 200 quilômetros, fornecendo a biomassa que substitui as fontes fósseis (carvão mineral e óleo combustível) até então usados pelo fornecedor de vapor.

Em comum entre todos os produtos, da Videolar à Innova, das fitas de vídeo às resinas, sempre esteve o plástico.

Em comum entre atitudes e escolhas de Lirio Parisotto, da roça e dos fretes noturnos ao comércio, da indústria ao mercado acionário, sempre esteve o desejo de melhorar ao mergulhar nas boas chances. “Cavalo encilhado não passa duas vezes” é um mote que Lirio Parisotto não cansa de repetir, e pode ser traduzido como se lançar sobre cada janela de oportunidade, uma após a outra, como se fosse a única, investindo sem cessar.

Frases de Lírio Parisotto

As frases a seguir foram extraídas de The Billion Dollar Secret, obra de fôlego do escritor alemão Rafael Badziag, lançada em 2019 na Inglaterra. Badziag reviveu o feito do célebre autor americano Napoleon Hill (autor de As Leis do Triunfo, de 1925) e talvez até o tenha superado ao buscar suas fontes não somente nos EUA, mas rodado o globo para entrevistar 21 empreendedores saídos do zero, em busca de uma certa essência comportamental em comum. Lirio Parisotto foi o único entrevistado na América Latina para The Billion Dollar Secret, sucesso mundial traduzido em doze idiomas. Suas máximas:

“Jamais aceite um não”.

“Quando você faz algo igual aos outros, você não é nada. Faça diferente!”

“Sou um empreendedor porque li e leio muito”.

“Não entregue seu futuro como moeda em troca de segurança”.

“Muitos me perguntam se a liderança é um fator genético, como se a resposta fosse fácil. Eu sou o primogênito de onze irmãos e, mesmo com pais tão dedicados, precisei ajudar a tomar conta deles. Isso tem um peso”.

“Não conheço quem aprenda com acertos, mas sim e sempre com os erros. Não creio em mágica”.

“Cultive um apetite inesgotável por informação, boa, qualificada. Corra atrás dela sem cansaço e sem certezas”.

“Investir sem informação é pecado capital”.

“O cavalo encilhado não passa duas vezes”.